segunda-feira, 12 de março de 2018

Carolina




Foi-se, assim, Carolina,
Ainda bem jovem, menina,
Sem olhar para trás,
Era um final de ano,
Novembro, dezembro,
Se não me engano,
Era a última poesia,
Era o último plano,
E ela partiu.

Partiu, Carolina,
Retirou-se de vez,
Levou suas roupas,
Retratos, documentos,
Dois cadernos baratos,
Com nossos inventos,
Levou um enfeite da sala,
Trancou, por fim, a mala,
Já era o fim do mês.

Foi-se Carolina,
Era tudo previsto,
Estava escrito,
Já era aberto o caminho,
Já era a hora de ir,
Ali tinha inicio uma vida,
Ali uma outra tinha fim,
Para se chegar ao longe,
Era preciso partir.

Então, partiu, Carolina,
Que saudades daquela menina,
Que passou por aqui,
Levou com ela a cidade,
Que habita em mim,
Agora desconheço as ruas,
As praças e avenidas,
Descruzei as esquinas,
De nossas vidas.

Foi para sempre Carolina,
Desconquistando territórios,
Do país que inventei,
Descobrindo as fronteiras,
Onde já não sei,
Foi para sempre Carolina,
Meus mapas imaginários,
As rotas coloridas,
Os jardins de margaridas,
O meu coração sem lei.

Foi para sempre Carolina,
A cidade perdeu a graça,
Agora o relógio que corre,
Não é o tempo que passa,
A meia noite é acesa,
O meio dia apagado,
Assim, aquela hora,
Alegria fez-se tristeza,
Carolina foi-se embora.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Platônica



Ah, esta paixão platônica,
Que corre os anos,
E faz o tempo parecer tão pouco,
Tão muito,
A película não revelada,
A mentira fantasiada,
Como se fosse verdade.

Ah, este fogo que não queimou,
Esta luz que não acendeu,
Mas também não se apagou.

Ah, estes desencontros de almas cruzadas,
O novelo do linho fino,
Que não se desenrolou.

Esta paixão platônica,
Que sobrevive por isto apenas,
Como memória revolta,
Como lembranças serenas.

Ah, este canto preso,
Que nunca se pronunciou,
Semente que não virou flor,
Este laço desfeito,
Sem dobras de nós,
Este engasgo seco,
Que trava a voz.

O que se desfaz por dentro,
Antes do nunca nascer,
Poesias, patologias e sombras,
Que se agarram ao vento,
Ao amanhecer.

Ah, esta sede de tudo,
Do que não há a beber,
Esta fuga do mundo,
O delírio do ser.

Esta chama contida,
Sangue seco na veia,
O sonho não sonhado,
Aquele cheio vazio,
A fantasia, o fio,
Que perpassa a teia,
Do amor condenado.






Marcos Vinícius.