sábado, 2 de dezembro de 2017

Estes olhos




Que olhos são estes,
que cruzam os meus,
são eternos flertes,
tem a força de deus.

Castanhos, escuros, verdes,
faz-me um calafrio,
a  alma quase congela,
transborda  leito vazio.

Se é assim explosivo,
a luz que a vida deu,
só me concebo vivo,
na mira do olhar teu.

Mas se uma lágrima escorre,
e este brilho apaga,
ali, onde o rio morre,
minh’alma naufraga.



quarta-feira, 29 de novembro de 2017



Mortos-vivos que somos,
mais mortos que vivos,
assim tão passivos,
das covas calmas,
levantados os corpos,
sepultamos as almas.




segunda-feira, 22 de maio de 2017

Criaturas



Ele, abre os caminhos,
As trilhas nas matas,
As mãos grossas de espinhos,
Em rotas inexatas,
Os olhos-mapas,
Os passos-primatas
Desenham a terra,
A jovem morada.

Ela, desvenda mistérios,
Da luz das estrelas,
Dos cursos dos rios,
Das flores vermelhas,
Aos duros-minérios,
Dos leitos vazios.

Ele, traz o cardume,
Ela, é puro perfume
Na terra-água a desbravar,
No meio da selva,
Interiores impenetráveis,
Na beira do mar.

Ele, ajusta o fogo,
Que dá-lhe o alimento
E o faz embalar,
Outras peças do jogo,
O caloroso-advento,
Que o permite queimar.

Ela, já o sente,
Arder em seu ventre,
Fazendo-o alojamento,
Ela, desvenda a semente
E a lança ao vento.

Ele, leva a caça,
Campeia o gado,
Ela, faz a massa, o pão,
Ele, apalpa o céu estrelado,
Ela, o húmus do chão.

Ele, inventou a indústria,
Ela, a noite sem sono,
Ele, a máquina, dinheiro, astúcia,
Dizia-se, tudo tem dono.
Assim a coisa se fez,
O tempo, o homem, a mulher,
O salário, uma vez ao mês,
A vida que não se quer.

Ele, levanta o telhado,
A parede de pau a pique,
Ela, esquenta o ensopado,
Faz melado-alambique.
Ele, mãos de carvão,
Ela, ásperas carícias,
Em óleo diesel, pedra-sabão,
Invocam, desde muito, o amor,
Entre mil dores e delícias,
Sob os rasgos do cobertor.


Marcos Vinícius.