quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Platônica



Ah, esta paixão platônica,
Que corre os anos,
E faz o tempo parecer tão pouco,
Tão muito,
A película não revelada,
A mentira fantasiada,
Como se fosse verdade.

Ah, este fogo que não queimou,
Esta luz que não acendeu,
Mas também não se apagou.

Ah, estes desencontros de almas cruzadas,
O novelo do linho fino,
Que não se desenrolou.

Esta paixão platônica,
Que sobrevive por isto apenas,
Como memória revolta,
Como lembranças serenas.

Ah, este canto preso,
Que nunca se pronunciou,
Semente que não virou flor,
Este laço desfeito,
Sem dobras de nós,
Este engasgo seco,
Que trava a voz.

O que se desfaz por dentro,
Antes do nunca nascer,
Poesias, patologias e sombras,
Que se agarram ao vento,
Ao amanhecer.

Ah, esta sede de tudo,
Do que não há a beber,
Esta fuga do mundo,
O delírio do ser.

Esta chama contida,
Sangue seco na veia,
O sonho não sonhado,
Aquele cheio vazio,
A fantasia, o fio,
Que perpassa a teia,
Do amor condenado.






Marcos Vinícius.