Ele, abre os caminhos,
As trilhas nas matas,
As mãos grossas de espinhos,
Em rotas inexatas,
Os olhos-mapas,
Os passos-primatas
Desenham a terra,
A jovem morada.
Ela, desvenda mistérios,
Da luz das estrelas,
Dos cursos dos rios,
Das flores vermelhas,
Aos duros-minérios,
Dos leitos vazios.
Ele, traz o cardume,
Ela, é puro perfume
Na terra-água a desbravar,
No meio da selva,
Interiores impenetráveis,
Na beira do mar.
Ele, ajusta o fogo,
Que dá-lhe o alimento
E o faz embalar,
Outras peças do jogo,
O caloroso-advento,
Que o permite queimar.
Ela, já o sente,
Arder em seu ventre,
Fazendo-o alojamento,
Ela, desvenda a semente
E a lança ao vento.
Ele, leva a caça,
Campeia o gado,
Ela, faz a massa, o pão,
Ele, apalpa o céu estrelado,
Ela, o húmus do chão.
Ele, inventou a indústria,
Ela, a noite sem sono,
Ele, a máquina, dinheiro, astúcia,
Dizia-se, tudo tem dono.
Assim a coisa se fez,
O tempo, o homem, a mulher,
O salário, uma vez ao mês,
A vida que não se quer.
Ele, levanta o telhado,
A parede de pau a pique,
Ela, esquenta o ensopado,
Faz melado-alambique.
Ele, mãos de carvão,
Ela, ásperas carícias,
Em óleo diesel, pedra-sabão,
Invocam, desde muito, o amor,
Entre mil dores e delícias,
Sob os rasgos do cobertor.
Marcos Vinícius.