José
Levanta José
e vai para a roça,
o dia está de pé,
sai da palhoça.
Já canta o galo,
no mourão da longa cerca,
vai-te no embalo,
no caminho, não se perca.
Vai para o trabalho,
vai lavrar o ventre da terra,
vai, José, ganhar o salário,
pra viver ao pé da serra.
Vai, José, velho menino,
louvando a semente no chão,
vai seguindo teu destino,
com a foice na mão.
Faz germinar a semente,
aflorar o novo grão
enche o coração da gente,
com a tua plantação.
Arranca do solo, a fecundidade,
vai, José, com a força do braço,
e mesmo que venha a idade,
não lhe abaterá o cansaço.
O teu rosto enrugado,
a tua mão calejada
é herança do arado,
é o peso da enxada.
Traz, então, para a mesa,
o prato minguado, o feijão,
a esperança acesa,
e teu olhar de ilusão.
Traz, José, o alimento,
que alimentou com teu suor,
traz pra casa o sustento,
que é sempre a parte menor.
Com os olhos vidrados,
e o suor pela testa,
diz, José, estar arruinado,
e que nada lhe resta.
Chegou, apavorado,
vindo da casa do patrão,
era homem estropiado,
correndo da escravidão.
Ceifaram seu salário,
para aumentar a produção,
e dobrando o trabalho,
José disse não.
Vai, José, embora,
em busca não se sabe de onde,
vai que tá na hora,
mostra a cara, não se esconde.
Junta os trapos,
os pobres farrapos,
que já não vestem mais
guarda as malas,
os velhos retratos
de seus ancestrais.
Chama a criançada,
despede da comadre,
desmonta o barracão,
bate, José, em retirada,
abandona a roça
e rasga teu coração.
Vai, José, pelo asfalto,
vai, José, de retirante,
espanta a saudade que invade,
vai, José, de viajante,
vai, José, foge do assalto,
no centro da grande cidade.
Vai, segue, então, pela avenida,
pelos becos, ruas e vielas,
vai reconstituindo a vida,
com os dedos nas páginas amarelas.
Vai soprando a ferida,
percorrendo as vilas e favelas,
e quando não há saída,
alimenta-se com as novelas.
José, que não tem emprego,
José, que não tem quinhão,
José, que não tem sossego,
hoje vê televisão.
José, que vê de tudo,
a fome, a prostituição,
José, agora vê o mundo,
sem salvação.
José enrijece a tez,
ouve-se um seco estampido,
com a bala cravada no ouvido,
José, agora, vai de vez.
Levanta José
e vai para a roça,
o dia está de pé,
sai da palhoça.
Já canta o galo,
no mourão da longa cerca,
vai-te no embalo,
no caminho, não se perca.
Vai para o trabalho,
vai lavrar o ventre da terra,
vai, José, ganhar o salário,
pra viver ao pé da serra.
Vai, José, velho menino,
louvando a semente no chão,
vai seguindo teu destino,
com a foice na mão.
Faz germinar a semente,
aflorar o novo grão
enche o coração da gente,
com a tua plantação.
Arranca do solo, a fecundidade,
vai, José, com a força do braço,
e mesmo que venha a idade,
não lhe abaterá o cansaço.
O teu rosto enrugado,
a tua mão calejada
é herança do arado,
é o peso da enxada.
Traz, então, para a mesa,
o prato minguado, o feijão,
a esperança acesa,
e teu olhar de ilusão.
Traz, José, o alimento,
que alimentou com teu suor,
traz pra casa o sustento,
que é sempre a parte menor.
Com os olhos vidrados,
e o suor pela testa,
diz, José, estar arruinado,
e que nada lhe resta.
Chegou, apavorado,
vindo da casa do patrão,
era homem estropiado,
correndo da escravidão.
Ceifaram seu salário,
para aumentar a produção,
e dobrando o trabalho,
José disse não.
Vai, José, embora,
em busca não se sabe de onde,
vai que tá na hora,
mostra a cara, não se esconde.
Junta os trapos,
os pobres farrapos,
que já não vestem mais
guarda as malas,
os velhos retratos
de seus ancestrais.
Chama a criançada,
despede da comadre,
desmonta o barracão,
bate, José, em retirada,
abandona a roça
e rasga teu coração.
Vai, José, pelo asfalto,
vai, José, de retirante,
espanta a saudade que invade,
vai, José, de viajante,
vai, José, foge do assalto,
no centro da grande cidade.
Vai, segue, então, pela avenida,
pelos becos, ruas e vielas,
vai reconstituindo a vida,
com os dedos nas páginas amarelas.
Vai soprando a ferida,
percorrendo as vilas e favelas,
e quando não há saída,
alimenta-se com as novelas.
José, que não tem emprego,
José, que não tem quinhão,
José, que não tem sossego,
hoje vê televisão.
José, que vê de tudo,
a fome, a prostituição,
José, agora vê o mundo,
sem salvação.
José enrijece a tez,
ouve-se um seco estampido,
com a bala cravada no ouvido,
José, agora, vai de vez.
3 comentários:
Belíssima saga, adorei. Parabéns!
Oi, Marcos Vinícius!
Car, "José" é algo belíssimo, cheio de musicalidade e muita simplicidade.
Parabéns!!! Continue escrevendo!
Também sou José e emociono-me sempre com coisas escritas sobre José.
Um abraço,
Oliveira
http://brincandodepoesia.blogspot.com
Também escrevi um poema chamado José, mas não creio que seja tão bom quanto o seu.
Adorei Marcos... Não conhecia seu trabalho poético. É maravilhoso. Parabéns pelos textos e texturas. Abraços.
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