domingo, 23 de outubro de 2011

Maçã




Maçã


Mordisquei um pedaço,
Daquela polpa de veneno,
No peito que era aço,
Bate um coração pequeno.

Banhada de sereno,
Aquela fruta bem doce,
Oferecia-me ao inferno,
Como se paraíso fosse.

Ah... o pecado!
Experimentei-o
a cada manhã,
Fazendo-me a dieta,
Aquela farta maçã.

Elevo-me ao céu
Envolto em azul anil,
Entorpeço de mel
Este corpo febril.

Regado ao vinho,
A ressaca, o vinagre,
Cruzarei o caminho,
Antes que o mundo acabe.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A navegar


A navegar




Navego
Entre as margens
Onde nunca pisei
Estou apenas a caminho,
Não sei quantas águas
Terei que singrar
Quantas ondas bravias,
Outras tantas calmarias,
Enfrentarei pelo mar.


Navego
Minhas velas curvas,
Nestas águas turvas,
Se contorcem ao vento
Navego
Pelos vendavais, tempestades
No breu das noites,
No lúmen dos dias
Navego
Enquanto há tempo.


Navego
Pelas águas poucas,
Pelas horas lentas
A escorrer a conta-gotas
Navego
Pelas corredeiras,
Pelas cascatas das cordilheiras,
Pelas correntezas loucas.


Navego
Quase náufrago
Na pressa do mundo
Aonde vai meu barco
A correr,
Sem amarras,
Levantei as minhas âncoras,
Antes navegar
Que morrer.

terça-feira, 26 de abril de 2011

À lápis.




À lápis


Vou fazer-te a lápis
Neste papel vazio,
Alinhar o meu traço
A ferro frio.

Vou dar-te contorno
Acender-te no forno
Do meu coração.

Será palavra
Refeita,
Sem lei,
Sem receita,
Será minha oração.

E será de grafite
Tua alegoria,
No dedo que corre
A fazer poesia.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

En-canto

En-canto



(À Bona Akotirene)




Meu coração de lona,
Maltrapido e rasgado
Ao ouvir-te
Bate em riste
Vem à tona,
Alegra o que é triste,
Na voz de Bona.



Meu coração semi-árido,
Quando a secar
Ou morrer
Vira rio perene
Pela voz de Akotirene
No deserto
Do meu ser.