O céu carrega-se de nuvens,
E muito pesadas,
Despencam-se em raios e águas;
O dia torna-se cinzento,
O estrondo dos trovões
Formam a linha vermelha
Que rasga ao meio
O infinito que meus olhos não
tocam.
As janelas de fecham,
As lâmpadas se acendem,
As sombras projetam-se, trêmulas,
Nas paredes manchadas dos
quartos.
Meus olhos miram a enxurrada
Através das frestas das persianas
E a tempestade apodera-se de mim.
Fecho a última porta,
Que ainda havia entreaberta,
As águas que caem lá fora,
Molham as varandas e sacadas,
Aqui nem uma gota escorre
Pelas juntas trincadas
Dos parapeitos internos.
Aqui tudo permanece seco.
Seco e abafado.
Mas o temporal
De fagulhas e relâmpagos,
Penetra-me pelos poros da pele,
Pela íris dos olhos,
Um clarão corta-me a alma,
Da cabeça aos pés,
Lúmens chuvosos,
Como lágrimas turvas,
Fazem festa no que trago por
dentro.
Regam e lavam o avesso
Do que sou e nunca vi.
Mal percebo,
O dia já clareava ao redor,
O canto eufórico dos pássaros
Anunciava que a chuva se fora,
A janela já podia se abrir,
Mas no breu impenetrável
De minhas carnes e ossos,
A trovoada arrasta-se,
Em enchentes e desabamentos,
Espíritos desabrigados,
Sangue encharcado.
E me afogo mais uma vez,
Náufrago das tempestades e
redemoinhos,
Intempéries, tornados,
Agora trancados em mim.
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