segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Palavras


Palavras


São tantas
Palavras
Palavras tantas,
São simples
Projetos
São plantas,
Do que não
Aconteceu.
São tantas
Palavras
Palavras tantas,
Línguas pagãs,
Mensagens santas,
Espalhadas
Por sobre a mesa,
São muitas,
São formas,
Disformes,
Estilos,
Grafias,
Que vibram
E saltam
Dos contos
Das poesias,
São tantas
Palavras
Palavras tantas,
Receitas de sucesso
Fórmulas e
Magias
Por sob
O clarão do néon,
O jornal
Que anuncia
Que fará
Tempo bom
São palavras
Palavras tantas
Palavras
Em linhas,
Em links,
Doces recados,
Infinitas nos livros,
Nos surrados
Teclados
Palavras tantas,
Palavras-convites,
Endereços,
Arquivos,
O universo humano,
O tempo distante,
São palavras
Nas prateleiras
Da estante.

Beira de rio


Beira de rio.


Vem rapaz
da beira do rio,
aqueça esse frio,
se for capaz.

Vem,
está na hora,
o dia vai
embora,
teu barco
é vazio.

Vem
matar minha
sede,
ata-me à rede
acolhe
meu cio.

Vem
traz a lenha,
decifra-me a senha
que guardo
pra ti.

Vem
em meu braço,
me afoga em
cansaço,
depois podes
partir.

Reza Brava


Reza brava


Já implorei
Pra tudo que é santo,
Orei, orei,
Orei tanto,
Penhorei a minha fé
Rezei tudo que
É novena
Pra ver o quanto
Vale a pena
O amor desta mulher.

Já tomei
Mil formulas e remédios,
Pra curar desta moléstia
Que se colou em mim;
Tomei chá de cicuta,
Dormi em casa de puta
E morri no botequim
Um dia mato a peste,
Arrancando-lhe a veste,
Pra livrar-me do fim.

Já editei
Dez mil versos
Entoei meu pobre canto
Derramei todo o pranto
Que ela não queria,
Não adiantou penitência
Não valeu o remédio
O sacrifício,
Não vingou o santo,
Ainda riu da poesia
Dos meus ossos do ofício.

Já chorei tempestades,
Inundei de lágrimas
Minha alma errante,
Hoje sou retirante
Nos caminhos perdidos,
De quem não me quer,
Mas ainda sigo adiante
E penitente descalço,
Não largo do encalço
Desta mulher.

Concretude


Concretude.



São de vigas estas veias,
De concreto o pensamento,
Do sangue que escorre,
Faz-se a face de cimento.

É de asfalto esta pele,
De alicerce, o peito,
Arame, areia,
Argamassa de sujeito.

Jardins de sentidos,
A grande avenida,
São olhos, ouvidos,
Becos sem saída.

Túneis e vasos,
E pontes de ossos,
No berço das ruas,
Simples destroços.

São fios de carne,
Que desligam o coração,
Postes que se apagam
Ao cruzar a contramão.

Parto


Parto.
(Música: Gersonn Jacques
Letra: Marcos Vinícius.)



Quisera
escrever alegria,
Mas os versos
Eram só dor
Quisera
fosse a poesia,
Apenas rimas de amor
Mas desta vez
Não deu
Seja lá o que for,
Mas o eco
Do grito meu
Um dia
Se abre em flor.


Música (áudio) 

Fio da navalha


Fio da navalha


Bate assim
Meu coração
Máquina fraca
Bate assim
Parece matraca
Parece bailar
Bate assim
Meu coração
De aço
Meu coração
De lata
Rasga meu peito
Em pedaço
Meu coração
Arteiro
Meu coração
Faca
Bate assim
Uma batida forte
Uma batida falha
Escapa
De outra morte
Já no fio da navalha.

Visão


Visão


Te vi
Dando saltos mortais,
Como não havia
Visto
Nunca jamais.
Te vi
Atravessar a corda bamba,
Pelo fio da navalha,
Te vi
Saltando abismos
Atravessando os ares
Como tiro na batalha
Te vi
Saltando arranha-céus
Disputando a travessia
Das andorinhas e pardais
Te vi
Domando nas selvas
Os mais ferozes animais.
Te vi
Enfrentando as trevas,
Como ninguém
Nunca o fez,
Atravessando oceanos,
Ferindo monstros
Com intrepidez.
Te vi
Na valentia
Dos impérios
Na fúria dos deuses,
Na alma da poesia
Na força dos adultérios
Te vi
Como quem vinha
Do além não desbravado
Com passos firmes,
A caminho do nada,
Te vi
Enfrentar a morte
Te vi
Cruzar a estrada.
Te vi
Era a luz do pensamento,
Estrela-mãe do firmamento,
Mistério não revelado
Era a pressa do tempo
Em tornar-se passado
Era o ciclone,
Era o buraco negro,
Que engoliu todo o mundo
Era toda a eternidade,
Num milésimo de segundo.

Farol


Farol



É poeira de estrela,
Luz do verão,
Vontade de vê-la,
Brilhar no coração.

É vela acesa,
Ceia na mesa,
Desejo de tê-la,
Meu vinho com pão.

É onda do mar,
Marujo, jangada,
Minha doce Yemanjá,
Fez-se namorada.

É vento de tempestade,
Tufão a balançar,
É tábua de salvação,
Que não deixa naufragar.