sábado, 15 de agosto de 2009

Lágrima de amor


Lágrima de amor
(Letra: Marcos Vinícius -
Música: Giovani Furlan)



O amor não se implora,
mesmo quando
o corpo chora
e a alma se faz doer.

O amor não se suplica,
ainda quando
quem parte, fica,
a nos corroer.

O amor não se mendiga,
ainda quando
a sede antiga
quase faz morrer.

O amor não se insiste,
e por mais
que seja triste,
é preciso viver.

Lágrima de amor - Marcos Vinícius - Giovani Furlan (videoclipe) 

Meninos de Gaza



Meninos de Gaza



Com que sonhas menino,
Em teu sono palestino,
Nesta guerra de fronteiras,
Ante o estrondo violento,
Onde o sopro do vento,
Faz das bombas, bandeiras?

Como sonhas pequenino,
Nesta terra, clandestino,
Na noite quase sem futuro
Na noite sempre acesa,
Como sonha, indefesa,
Uma infância sem muro?

Se traz o nó na garganta,
Não te dão a terra santa,
Como se pode sonhar?
Talvez derretam os blindados
Já não haja mais soldados,
E ainda te reste o mar.

Se não temes infantaria,
Nesta noite que é dia,
O que tens, pois, de juízo?
A pedra, foguete, o morteiro,
Não importa o mundo inteiro
Menino sem paraíso.

Em que sonho sem escolta,
Em que grande revolta,
Poderá sonhar em casa,
Sem o barulho dos tanques,
Sem os mísseis dos ianques
Nesta faixa de Gaza?

Onde cabe o sonho sonhado,
O cessar-fogo acordado,
Sem solo, no colo de Israel,
Durma em paz, ó menino,
Em teu sono palestino,
Pelas fileiras do céu.

Teu passo - de samba




Teu passo – de samba.
(Letra: Marcos Vinícius
Música: Gelson Luiz)



Enquanto durar
O ensaio da escola
Desligo a novela
Me esqueço da bola
Só pra te ver rebolar
Neste pátio do samba
Que é teu altar.

Ah... nesta roda
Que é tua
Que é minha
A fantasia -
Nesta máscara
Triste
Escondo a alegria
De te ver desfilar.

Vale um ano
Vale a pena
Mais que natal
Ou novena
Ver tua pele morena
Em meu carnaval.

Alegoria
Você me levou
Perdi compromisso
Futebol, a bebida,
Uma nota de dez
Hoje sou submisso
Sou avenida,
Por sob teus pés.

Música (áudio) 

É tarde


É tarde.


Não faça
Alarde
Agora
É tarde
Pra recomeçar.

Esperei-te
Amor,
Por atalhos,
Curvas,
Estreitos,
Canais,
Espreitei
Entre a gente,
Em santuários,
Pelos carnavais.

Aguardei
Calendários,
O tempo
Apressado
Caminhando
Lento;
Desfiz-me
Do sonho,
Ao morrer
Na espera
Ao relento.

Agora é tarde,
Meu amor,
Adeus,
Não faça
Alarde
Perdi-me
Nas trilhas
Dos passos teus.
É tarde.

Gesto Derradeiro


Gesto derradeiro


Vai agora
Meu amor
Para sempre
Vai para
Nunca mais
Vai de vez,
Mutila-me
A alma,
A carne
A lucidez.

Meu corpo
Ainda quente
Já ressente
A ausência
Do teu
Em meu
Ventre
Você para
Sempre
No fruto
Que me deu.

O que farei
Agora,
Quando
A chama
Já morta de ti
Se arder
Em mim,
O que restará
Da madrugada,
A cama,
O umbral da porta,
Por onde
Não voltará.

Ah... meu amor,
Sobre teu rosto frio,
Derramo-te
As lágrimas,
Leitos
Fecundos
Do nada.
Resta o vazio,
O vazio de ti,
Ausência suprema
Dor maior
Que me faz
Sucumbir.

Adeus para sempre
Amor proibido,
Leva-me a alma,
Meu doce bandido,
Dou-te
Meu último toque,
Gesto derradeiro,
Ah... não se vá,
Não se vá
Meu querido.

Vem
Meu amor
Se levanta,
Arranca a voz
Da garganta
E diz que me quer
Pela última vez.
Vem,
Meu amor,
Me acalanta,
Meu vício,
Doce ofício,
Que não
Saberei
Desaprender.
Vem
Fantasma
De mim
Por cada canto
Do meu ser.

Sente
Outra vez
Meu corpo
Que treme
Na palidez
Da tua pele,
Meu amor sangue,
Amor morto,
Clandestino,
Devolva-me,
Oh Deus,
De uma vez,
Meu grande bem,
Meu perverso
Menino.


(Para o dia em que Maria ficou viúva)

À pele-preço


À pele-preço



Cabelos longos e pretos,
os pés de princesa,
a tatuagem na coxa,
o piercing no umbigo,
a fragrância da nuca,
o aconchego do ventre,
a pintura no dedo,
as curvas laterais,
as entranhas do corpo,
os relevos e planícies,
os pelos da pele,
as tonalidades da cor,
o cheiro do sexo,
as peripécias do amor,
são nomes das deusas,
musas, belezas,
se entregam
ao prazer, sem pudor,
oferecem carícias,
milhões de delícias,
posições liberais,
tem de todos os preços,
fantasias, adereços,
nos classificados dos jornais.

Pobre menina


Pobre menina


Minha pobre menina
Que nasceu por aqui
Nesta América Latina
Assim tão pequenina
Já tem que pedir.
Minha doce menina,
Das estradas, das esquinas,
Assassinas,
Por onde terá que dormir.

Minha doce menina,
Assim já tão cedo,
Já temes de medo,
Do mundo que vê,
Mas na vida se tem
Sorte,
Dribla-se a morte,
Sem ter o que comer.

Minha linda menina
Que o tempo faz crescer,
Nesta terra seca,
Neste asfalto sem grão,
Deixaste a boneca,
Foste à cata de pão.

Minha tenra menina,
Que à Terra a vida traz,
Tão semente, tão pequenina,
Tão duradoura, vida fugaz.

Menina de pano
Menina de trapo,
Menina farrapo
Menina menina,
É sorte,
É sina,
Este sangue que corre,
Esta veia latina

Minha magra menina,
Que a cada dia renasce
É a filha da fome,
Da sociedade de classe,
Não é obra do destino,
Ou seleção natural,
O martírio tem nome,
E é obra do capital.

Minha menina crescida,
Que é fato de jornal,
Minha menina atrevida,
Pequena marginal,
Tornou-se destemida
O mundo a quis assim
E acaso preciso,
Já que perdeu o juízo,
Derramará o sangue,
Até o fim.

Maria do Córrego

Maria do Córrego



Maria do córrego
Já não mais tem
Água doce
Nem ramos de flores,
Só lixo humano
Fétidos odores.

Maria do rio
Menina da ponte
A natureza está morta
Seca na fonte.

Maria do beco
Nada sobrou do rio
O leito está seco
Teu coração está vazio.

Menina do barraco
Sem telha
Da parede de pano
Desgarrada ovelha
Do centro urbano.

Maria
Por sobre
O filete do esgoto,
Melhor talvez
Fosse a vida
Se o destino
Fosse outro.

Sangue revolto


Sangue revolto.


Corre
Em minha veia
Latina
Em minha
Sub-pele tropical
O sangue, a genética,
Da carnificina
Já dos tempos
De Cabral.

Corrre
Por esta veia turva
O sangue derramado
De cada ancestral
O sangue Pindorama
O olhar de Pacha Mamma
A gotejar.

Corre
Febril
Por esta veia morta
O fogo eterno
Que não pode se apagar
Corre por essa via torta
O jogo do inferno
Que não quer desatar.

Inunda as artérias,
Vai morar no coração,
Sangue-preto
Sangue-gueto
Sangue-vermelho
Arco-íris de sonhos
Na mira
Do espelho.

Ecoa pelas veias,
O grito de Zumbi
O silêncio
Dos gritos calados
Ainda a repercutir
Sangue-índio
Sangue Tupã,
O sol que na pele
Se apaga
A cada manhã.

Ainda o sangue,
Ainda o suor,
Ainda o sal
Da luta maior
No pulso, no peito,
Armadilhas,
Emboscadas
No rastro das trilhas,
Carnes
Dilaceradas.

Nos corrimãos
Destas veias,
As marcas digitais,
De Maria e Clementina,
O sangue - Severina,
Nesta América Latina,
Sem nome algum.

Corre
O sangue-cangaceiro
Corre no palco do tempo
Na seiva da terra
O sangue da guerra
De Antônio Conselheiro
Derrama
Sangue-preto,
Sangue-vermelho.

Corre
Meu sangue-zapatista,
Meu sangue-Corumbiara,
Eldorado dos Carajás,
Sangue sem paz
Corre meu sangue
Encharcado
Corre pelas vielas,
Pelas vilas, favelas,
Corre sangue-sacrifício
Meu sangue animal,
Corre meu sangue
Nas celas
Desta aldeia global.

domingo, 14 de junho de 2009

Dose única


Dose única


Se a visão
Os olhos
Se cansam
De ver
Se a febre
Na tez
Reclama
Em arder
Se arranco
O cabelo
Se fico
Vermelho
Desespêro
Então
Nesta folha
Que é leito
Já sem
Escolha
Me deito
Coração
Se acalma
Se deixo
Um risco
Um traço
Rascunho
De sonhos
Num pedaço
Da alma.