sábado, 15 de agosto de 2009

Sangue revolto


Sangue revolto.


Corre
Em minha veia
Latina
Em minha
Sub-pele tropical
O sangue, a genética,
Da carnificina
Já dos tempos
De Cabral.

Corrre
Por esta veia turva
O sangue derramado
De cada ancestral
O sangue Pindorama
O olhar de Pacha Mamma
A gotejar.

Corre
Febril
Por esta veia morta
O fogo eterno
Que não pode se apagar
Corre por essa via torta
O jogo do inferno
Que não quer desatar.

Inunda as artérias,
Vai morar no coração,
Sangue-preto
Sangue-gueto
Sangue-vermelho
Arco-íris de sonhos
Na mira
Do espelho.

Ecoa pelas veias,
O grito de Zumbi
O silêncio
Dos gritos calados
Ainda a repercutir
Sangue-índio
Sangue Tupã,
O sol que na pele
Se apaga
A cada manhã.

Ainda o sangue,
Ainda o suor,
Ainda o sal
Da luta maior
No pulso, no peito,
Armadilhas,
Emboscadas
No rastro das trilhas,
Carnes
Dilaceradas.

Nos corrimãos
Destas veias,
As marcas digitais,
De Maria e Clementina,
O sangue - Severina,
Nesta América Latina,
Sem nome algum.

Corre
O sangue-cangaceiro
Corre no palco do tempo
Na seiva da terra
O sangue da guerra
De Antônio Conselheiro
Derrama
Sangue-preto,
Sangue-vermelho.

Corre
Meu sangue-zapatista,
Meu sangue-Corumbiara,
Eldorado dos Carajás,
Sangue sem paz
Corre meu sangue
Encharcado
Corre pelas vielas,
Pelas vilas, favelas,
Corre sangue-sacrifício
Meu sangue animal,
Corre meu sangue
Nas celas
Desta aldeia global.

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