sábado, 15 de agosto de 2009

Pobre menina


Pobre menina


Minha pobre menina
Que nasceu por aqui
Nesta América Latina
Assim tão pequenina
Já tem que pedir.
Minha doce menina,
Das estradas, das esquinas,
Assassinas,
Por onde terá que dormir.

Minha doce menina,
Assim já tão cedo,
Já temes de medo,
Do mundo que vê,
Mas na vida se tem
Sorte,
Dribla-se a morte,
Sem ter o que comer.

Minha linda menina
Que o tempo faz crescer,
Nesta terra seca,
Neste asfalto sem grão,
Deixaste a boneca,
Foste à cata de pão.

Minha tenra menina,
Que à Terra a vida traz,
Tão semente, tão pequenina,
Tão duradoura, vida fugaz.

Menina de pano
Menina de trapo,
Menina farrapo
Menina menina,
É sorte,
É sina,
Este sangue que corre,
Esta veia latina

Minha magra menina,
Que a cada dia renasce
É a filha da fome,
Da sociedade de classe,
Não é obra do destino,
Ou seleção natural,
O martírio tem nome,
E é obra do capital.

Minha menina crescida,
Que é fato de jornal,
Minha menina atrevida,
Pequena marginal,
Tornou-se destemida
O mundo a quis assim
E acaso preciso,
Já que perdeu o juízo,
Derramará o sangue,
Até o fim.

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