Pirâmide social
Um tem berço de ouro
Guarda no banco o tesouro
E assina os papéis
Trafega em palácios
Transita em quartéis
Do mundo é o dono
Assenta no trono
E arrebanha fiéis
É homem de negócio
O mercado é sacerdócio
Que lhe faz tão bem
Tem título de propriedade
Um palácio na cidade
Dinheiro como ninguém.
O outro não sabe ainda
Pra que lado correr
Vive na berlinda
Diz que é classe média
Que não existe tragédia
Que lhe possa ocorrer
Afinal leva a vida
Na primavera das prestações
Assim dividida
Entre outonos e invernos
De mil ilusões
Afinal tem uma quitinete
Tem acesso a internet
Praia em todos os verões.
O terceiro não tem emprego
Seu nome é sem tradição
Não tem aconchego
Foi expulso do barracão
Tem a cara da seca
Carrega a fome do agreste
Tem a pele calejada
Leva a marca da peste
Não anda pelos shoppings
Não vai a teatros,
Espetáculos ou museus
Dorme em banco de praça
Olhando pro céu
Procurando por Deus
Mas é a cachaça
A redenção do sofrimento
De existir simplesmente
Sem certidão de nascimento.