terça-feira, 11 de março de 2008

O despertar


O despertar operário



De manhã, acorda bem cedo o trabalhador,
Com o olho embotado, no despertador,
Abre a cortina, e acende a luz,
Lá embaixo a avenida, no peito, a cruz,
No espelho do quarto, a face sombria,
Ainda é meio noite, quando raia o dia.
Ao cerrar a porta, corre pela escada,
A rua escura ainda guarda madrugada,
A rua à direita é mão sem saída,
A rua à esquerda sai na avenida.
É lá onde passa o ônibus, é o horário,
É onde sai então, para o trabalho.
Olha mais uma vez o relógio,
E o passo apressado o leva pra fila,
O peito apertado carrega a mochila,
Que ainda vazia, sem nem um tostão.
Conta, de novo, um outro minuto,
Corta o atraso, desconta o tributo,
Que vai lhe taxar o patrão.
Com pressa, tropeça, no lotação,
Confessa que desta, não escapa,
Não vai mesmo ter perdão.
Quem sabe ainda seja tempo,
Se nenhum contra-tempo atrasar o sinal,
Quem sabe não pare num ponto,
Quem sabe o chefe esteja tonto,
E não queira lhe fazer mal.
Como pode então ser tão tolo
E alimentar uma ilusão infernal
Já tem sorte, chegou na roleta
E é ai que a coisa ficou preta
Não sobrou troco, seu trocador,
Apela à piedade, apela ao amor,
Penhora o relógio, o pingente de lata,
Promete um negócio, uma mina de prata,
Uma grande fábrica a vapor.
Promete a cerveja gelada do bar
E um grande banquete que irá bancar
Promete como coisa de menino
Promete o mundo, pelo destino.
Ele precisa chegar e tem pressa
Então faz tudo quanto é promessa
Mas não pode se atrasar.

Um comentário:

José Oliveira Cipriano disse...

Oi, Marcos Vinícius!
Gosto muito de sua sensibilidade social; você escreve coisas muito boas dentro da temática social. Admiro muito essa preocupação!
Meus aplausos!!!!!!
Um grande abraço,

Oliveira