terça-feira, 11 de março de 2008

No confessionário


No confessionário


Já fui operário engajado,
Me dediquei à causa justa
Tu bem sabe quanto custa
A representação popular
Já fui ativista da paz
Já fiz greve de fome
Até troquei o meu nome
Quando ainda era rapaz
Fui vítima da ditadura
Sofri tudo quanto é tortura
Até não agüentar
Organizei a resistência
Era chefe da tendência
Que ia revolucionar
O espírito militante
me levou bem adiante
mas não cansei de lutar.
Fui combatente aguerrido
Ajudei a fundar o partido
E lutei contra o sistema
Fui cassado, perdi domicílio,
Acabei no exílio
E cumpri uns anos de pena.


Hoje o mundo ta mudado
E o fim da história chegou
Agora que virei deputado
Minha meta é o senado
É muito bom virar doutor
Não é nada pessoal
Tenho planos para o Estado
Sou poder, sou institucional,
Mas pra manter esse emprego
Tive que virar pelego
E me aliar ao capital
Aprendi a fazer falcatrua,
E manobra no plenário,
Criar imposto abusivo,
E arrocho no salário
Tenho canais e faço lobby
Só moro em área nobre
Mas continuo combativo
Assim conquistei um assento
Na comissão do orçamento.
Minha caneta vale dinheiro
E não perco a concorrência
Faço creche e faço caixa
Com o capital estrangeiro
Tenho que fazer desvio
Pra manter meu poderio
E meu projeto eleitoreiro.
  1. No Confessonário

    Já fui operário engajado,
    Me dediquei à causa justa
    Tu bem sabe quanto custa
    A representação popular
    Já fui ativista da paz
    Já fiz greve de fome
    Até troquei o meu nome
    Quando ainda era rapaz
    ... Fui vítima da ditadura
    Sofri tudo quanto é tortura
    Até não agüentar
    Organizei a resistência
    Era chefe da tendência
    Que ia revolucionar
    O espírito militante
    me levou bem adiante
    mas não cansei de lutar.
    Fui combatente aguerrido
    Ajudei a fundar o partido
    E lutei contra o sistema
    Fui cassado, perdi domicílio,
    Acabei no exílio
    Cumpri uns anos de pena.
    Hoje o mundo está mudado
    E o fim da história chegou
    Agora que virei deputado
    Minha meta é o senado
    É muito bom virar doutor
    Não é nada pessoal
    Tenho planos para o Estado
    Sou poder, sou institucional,
    Mas pra manter esse emprego
    Tive que virar pelego
    E me aliar ao capital.
    Aprendi a fazer falcatrua,
    Manobras no plenário,
    Criar imposto abusivo,
    E arrocho no salário
    Tenho canais e faço lobby
    Só moro em área nobre
    Mas continuo combativo
    Até conquistei um assento
    Na comissão do orçamento
    E caneta que faz dinheiro
    Já não perco concorrência,
    Faço creche e faço caixa
    Com capital estrangeiro
    Tenho que fazer desvio
    Pra manter meu poderio
    E meu projeto eleitoreiro.

Um comentário:

José Oliveira Cipriano disse...

Oi, Marcos Vinícius!
Meus aplausos para sua visão crítica de nossa política, de nossos politiqueiros! Está muito bem estruturado seu poema! Belíssimo!!!
Um grande abraço,

Oliveira