sábado, 15 de setembro de 2007

De uis e de ais


De uis e de ais


Terá sido de uis e de ais,
o suspiro escondido,
sob os finos lençóis,
no dossel dourado,
por trás dos portões
dos palácios imperiais?
o gemido dos nobres e burgueses,
sobre a fina messalina,
sob a renda dos seus enxovais?
o ranger daqueles dentes,
entre aranhas e serpentes,
sob as voluptuosas carícias sensuais?

Terá sido de uis e de ais,
os últimos gritos da boca trêmula,
da vulva rasgada,
estuprada pelas baionetas dos generais?
o amor recortado,
por qualquer trocado,
nas esquinas dos becos,
nas curvas dos corpos,
nas páginas amarelas
dos nossos jornais?

Terá sido de uis e de ais,
o estufar dos formosos seios,
na penumbra dos candeeiros,
pelo vinho derramado
sob a luz das velas dos castiçais?
a dança rítmica carnal,
trespassada no tempo,
eternizada a cada momento,
nos amores mortos
dos nossos ancestrais?

Terá sido de uis e de ais,
os partos das meninas-mães,
filhas abastadas
das melodias mercantilizadas,
do grande mercado dos carnavais?
a madrugada das virgens,
das primeiras-damas,
trancadas nas casas grandes,
nas casas brancas,
entregues à gula dos neocanibais?

Terá sido de uis e de ais,
o tremer da carne nua,
entre os dentes na nuca,
sob o clarão da lua,
envolta em macabros rituais?
o roçar no teclado,
com o olho vidrado,
pelos estímulos virtuais?
a dor dos santos queimados
a redimirem seus pecados,
pelos prazeres carnais?

Terá sido de uis e de ais,
o adormecer das donzelas,
sob a armadura de ferro,
dos senhores feudais?
as milhões de posições,
no leito das multidões,
consagradas nos antigos manuais?
o ventre sangrado,
coração apunhalado,
sob as espadas dos samurais?

Terá sido de uis e de ais,
o tremor que sacode a terra,
que inicia ou termina a guerra,
no gozo metafísico
dos amantes imortais?
o canto das sereias cativas,
seduzidas à morte,
pelas fervorosas tentações dos bacanais?
os amores plurifórmicos,
elípticos, disformes,
não encontrados nos volumosos anais?

Terá sido de uis e de ais,
o sono cortado,
o peito aberto, o vestido rasgado,
das antes, pobres vestais?
o amor selvagem, paleolítico,
sob o fogo da aurora dos tempos,
nos olhos dos velhos neandertais?

Nenhum comentário: