sábado, 15 de setembro de 2007

Lápide do lavrador





Lápide do lavrador


Aqui nesta terra seca
Neste pedaço de chão
Esvai-se a vida inteira
Na luta árdua pelo pão.

Aqui pela luta inglória
Por esta terra ingrata
Que mata a semente
Guardo meu corpo
Sepulto a memória.

Por sob agora
O pesado torrão
Adormeço neste leito
O peito
Que guarda trancado
O velho coração
Desfaleço ao lado dos meus
Entre fendas da terra adorada
Entre os veios
da terra conflagrada
Levo o peso da enxada
Os apelos das preces
Em oferenda da Deus.

Aqui entrego à velha terra
Meu maior e findo milagre
Repousarei no topo da serra
Sob a funda cova que se abre.

Aqui no abraço da grande mãe
Vai-se pela fome ou pela peste
A miséria ancestral e profunda
Que cega meus olhos de agreste

Muitos jovens, também os filhos,
Vários deles, dobram-se assim,
Pobres sedentários ou andarilhos,
Nessa grande seca sem fim.






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