sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Saudade escrava


Saudade escrava


Descem p'ros mercados e feiras,
de corpos nus, cansadas,
olhos suados, encharcando as coleiras,
desembarcam escravizadas.

Descem p'ros mercados e feiras,
dos portos aos canaviais,
derretem-se nas caldeiras,
e varam noites inteiras,
inventando carnavais.

Jovens pérolas da noite,
encantam os sonhos dos feitores,
e ainda nem libertas do açoite,
caem nas garras de seus senhores.

Assim o branco ordena,
chamando o capitão-do-mato,
fazendo jogo de cena,
quer preta de fino trato.

Sob as sedas da velha Europa,
estupra o ventre da mãe nagô,
o bafo doce do engenho, então assopra,
a lágrima de sal que derramou.

Terra doce,
mar de sal,
se cedo ainda fosse,
não fosse a profundeza abissal,
voltariam ao que se afastou
num grandioso ritual.

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