sábado, 15 de setembro de 2007

Terra



Terra


Nesta terra divina
dava de tudo e um pouco mais
reinavam os homens
no solo sagrado de seus ancestrais
Na velha terra dos papagaios
dos gatos, saguis e outros animais
reinavam os bichos,
na floresta, no cerrado, nos matagais.

A grande mãe dos povos índios,
sacralizada a cada ritual
a terra virgem de filhos livres,
floresceu bem antes dos tempos de Cabral.

Outros ventos, porém, sopraram
e aportaram alheios desígnios
do distante reino de Portugal.
Outros pés ancoraram
desembarcaram com intuitos malignos
e a fé no novo deus capital.

Arrastando pelos mares
os pesado grilhões
Os antigos povos nativos
nos caminhos do ouro
no interior dos porões
são os novos cativos
que acendem a chama das revoluções.

Nesta terra divina
eternizada pela mão leve pesada do lavrador,
paga-se pela sina
de carregar em suas veias, suas fendas,
os ecos dos gritos de dor.

Nos limites da vida,
as infinitas cercas de arame;
no delírio dos tempos,
sepultada a fantasia do mundo,
esconde-se a fonte mágica e fecunda
encarcerada no latifúndio.

Povo escravo, estropiado
de peito cortado e chibata no lombo
arrebenta as correntes
e inventa o quilombo.

Nas multidões de Antônio Conselheiro
a resistência da vida
em não se dobrar por inteiro
o grande sonho enfim
de se livrar do cativeiro.

Sobre a terra, então, conflagrada
plantou-se um golpe militar
e sob a benção da pátria amada
em nova ordem, o progresso era matar.

A vida pois, resiste,
de pés duros sobre a terra quente
com ombros de calos, o peso da enxada
na mão enrugada, o sonho da semente
o parir eterno dos dias,
no ventre da madrugada.

Os filhos deste solo, a mãe gentil
protege em seu colo, a débil pátria varonil
carregando em seu seio, o 'não matarás'.
Nunca mais Corumbiara,
Nunca mais Eldorado dos Carajás.



Marcos Vinícius.

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